Este trabalho resulta duma abordagem antropológica da mudança social e das transformações sócioculturais ocorridas em Sendim, vila transmontana do Planalto Mirandês, tomando como ponto de partida a evolução paradoxal de dois indicadores - o decréscimo populacional e o aumento do número de fogos, desde meados do séc. XX até ao início do séc. XXI. Esta pesquisa desenrolou-se em torno de uma realidade social, complexa e, até certo ponto, paradoxal - uma aldeia próspera, com uma população em decréscimo - que se procurou desmontar a partir de vários planos de observação, olhando-a a partir das suas pessoas, dos seus grupos domésticos, das suas casas e das suas festas. O contacto com o terreno, nas sucessivas fases do trabalho de campo, foi a pouco e pouco quebrando o mutismo da paisagem, das casas e dos rostos, cujas histórias iam dando voz à história da aldeia. Deste conhecimento próximo nasceu a preocupação central de fazer o registo da memória, que se procurou manter ao longo da pesquisa, conferindo-lhe, mesmo, um certo carácter de urgência - havia que registar um tempo de memória, relativamente abandonado pela generalidade dos cientistas sociais, demasiado longínquo para os sociólogos e demasiado recente para os historiadores. |