O jesuíta madeirense Manuel Álvares (1526-1582) é provavelmente o autor português de uma obra com maior número de edições. De facto, dos seus Emmanuelis Aluari e Societate Iesu de Institutione Grammatica libri tres (“Três livros sobre o ensino da gramática da autoria de Manuel Álvares, da Companhia de Jesus”), pela primeira vez publicados no ano de 1572, conhecem-se mais de 500 edições, impressas nos quatro cantos do mundo. Por este manual ainda estudou latim o romancista irlandês, e poliglota obcecado pelos mistérios das línguas, James Joyce. Apesar de tão evidentes provas dos seus créditos como conhecedor do latim, até hoje tem passado despercebida a faceta de Manuel Álvares como criador literário no idioma que competentemente ensinou. Dos códices manuscritos em que os jesuítas recolheram o que de melhor se ia produzindo nas suas escolas, o Professor António Guimarães Pinto transcreveu e traduziu as peças literárias em que o sacerdote da Ribeira Brava demonstrou a sua agudeza e facilidade como poeta e o seu inspirado fôlego oratório, numa brilhante Oratio, ou discurso panegírico, no qual, de par com a patriótica admiração pela figura de D. João III, se revela o aproveitado discípulo de Cícero.
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