As relações de Mário Cesariny com a obra de Teixeira de Pascoaes, que abriram em força na década de 60 do século XX e se alargaram depois até ao seu desaparecimento físico já em 2006, marcaram a terceira fase do desenvolvimento do surrealismo em Portugal, a da maturidade, ajudando a reorientar a obra poética de Cesariny numa direcção inesperada, a da sátira anti-pessoana, com as duas edições do «Virgem Negra». Conhecíamos os vários momentos públicos deste relacionamento — em que entra o trabalho de selecção de duas compilações, «Aforismos» e «Poesia deTeixeira de Pascoaes», ambas de 1972, e a frase capital dita em 1973 no texto «Para uma Cronologia do Surrealismo Português», "Teixeira de Pascoaes, poeta bem mais importante, quanto a nós, do que Fernando Pessoa" — mas ignorávamos, e continuamos em parte a ignorar, o percurso por dentro dessa ligação, bem como desconhecíamos o convívio do autor de «Pena Capital» com o lugar e a casa em que Pascoaes viveu. Com a publicação das cartas de Cesariny para os dois habitantes da casa de Pascoaes, João e Maria Amélia Vasconcelos, de 1968 a 2004, ficamos a conhecer elementos do relacionamento entre Mário Cesariny e a obra de Teixeira de Pascoaes e a perceber uma parcela importante da teia em que tudo aconteceu, quer dizer, do como, do quando e do através de quem se deu e processou o convívio de Cesariny com o lugar e a casa de Pascoaes |